quinta-feira, 4 de novembro de 2010

magusto

porque quem conta um conto, lhe acrescenta um ponto e porque o tempo ajuda a suavizar as arestas das nossas memórias, em vésperas de são martinho, também ele um viajante, aqui fica mais um post do vAleTe.


SUD-EXPRESS


Do ponto de vista de viajante, sempre achei que o comboio era o meio de transporte que mais promove o contacto entre as pessoas. Quer seja pela liberdade de movimentos que permite, a disposição das pessoas, ou até mesmo a carga histórica associada, sempre o encarei como algo mais do que uma forma que nos permite chegar a um destino, e que pode transformar a deslocação como parte, ela mesma, da nossa viagem.

Assim nasceu a ideia de embarcar a bordo daquele que é o percurso ferroviário mais antigo do mundo, que para além da carga histórica que já tinha, passou também a ligar a irmandade ibérica que constituí em espanha.

Outrora envolto numa mística do trânsito de imigrantes portugueses além fronteiras, hoje o Sud-Express é um comboio modernizado, com todos os benefícios e desvantagens que daí advêm. Parte do romantismo mantém-se, e é em grande parte devido à eternidade da entrada e saída de pessoas ao longo das inúmeras terras por onde vai passando. Assim aconteceu comigo. Um imprevisto levou-me a um vagão-cama, num compartimento onde o acaso juntou quatro estranhos, que com o arrastar das horas partilharam afinidades e divergências, algumas notas de imprensa, mas sobretudo experiências. Logo à partida, soube que iria ver correspondidas as minhas expectativas.

De um deles, tenho pouco a dizer. Filho de imigrantes, visitava portugal para rever parentes cada vez mais afastados pelo suceder das gerações, e das barreiras linguísticas.Do outro ocupante, senti essencialmente pena. Trabalhador da construção civil, não pode (ou não soube) aproveitar o que a mão cheia de países onde viveu lhe podia oferecer. Mas se o interesse em relação às culturas com que tinha contactado era pouco, o mesmo não se pode dizer da exaustiva análise que parecia efectuar ao tom polífónico, que em modo de repetição, entoava a música que neste verão parasitou todas as cadeias de televisão, quando o motivo, por mais remoto que fosse, fazia lembrar a selecção portuguesa de futebol... irra!

Se o cenário que tinha perante mim agoirava o princípio de um pesadelo, foi com agrado que vi entrar aquele que viria a ser a terceira peça do conjunto deste compartimento. A troca de palavras, incentivada pela obrigação da exaustiva partilha de um espaço comum, revelou um homem do norte, que (talvez goste eu de imaginar) se viu obrigado a abandonar o seu país por razões políticas. Casado com uma espanhola de santander (curiosamente aquele que se viria a tornar o meu destino passadas algumas horas), estabelecera-se em paris, há mais tempo do que a totalidade da minha própria existência podia constituir.

Os interesses comuns tornaram-se evidentes, desde o comentário a uma página solta de Orwell, ou ao desejo de um dia rumar a Este, do mesmo modo que o fazíamos nesse momento, mas de certa forma diferente, seja no conforto das carruagens, ou na nossa assepsia ocidental, e que só um transiberiano tão particularmente pode transmitir.

A partir deste momento, o tempo pareceu retomar o seu ritmo normal, e foi com entusiasmo que ouvi falar dos relatos de gente que outrora seguia o mesmo trajecto que nós.

Do resto da viagem, do reencontro de amigos e da estadia no País Basco espanhol e francês, muito fica por dizer, mas que melhor que imagens para o descrever?


(oriñón)


(landa)


(udalaitz)


(biarritz)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

manifesto anti-comodista

Depois do regresso de um fim de semana de concertos em santiago de compostela, eis que o vAleTe resolveu re-aparecer envolto em nevoeiro: "cof cof..."

Ao contrário do que possa parecer, este hiato bloguístico, não se deveu a carências na dose pessoal de vivências ou viagens. A experiência no luxemburgo foi incrível e as passagens por praga ou estocolmo ajudaram a preencher os rolos e as páginas do meu valete.

Ao sabor do tempo, os meus presentes continuam a dar lugar a pretéritos... e vice-versa. Estou novamente a viver em aveiro, mas sempre com uma agradável perspectiva de futuro incerto.

Para abrir o apetite a este manifesto anti-comodista, aqui ficam alguns instantâneos dos últimos meses.





(luxemburgo)


(estocolmo)

(praga)

(coimbra)

(Oquestrada - Tasca do Chico)

(figueira da foz)