domingo, 30 de janeiro de 2011

são voltas às voltas

Gosto de viver em diferentes lugares, de observar como a luz incide numa esquina, como uma erva emerge de uma laje solta, assistir à forma como fluem as coisas e as pessoas, mas é quando o meu caminho se cruza com o de outros que observo a transformação do mundo a que os meus olhos se habituaram, quando o palco do ilusionismo dá lugar à magia.


Esta entrada no vAleTe marca o início de uma nova etapa. Uma aventura num novo continente, numa cidade nostálgica pelo glamour de outrora, com receios próprios de tempos conturbados e à procura de um apoio seguro para dar um passo em frente. Assim é Casablanca, aquela que será a minha casa para os próximos seis meses!


à noite, todos os gatos são pardos


Cheguei a Casablanca na noite de 25 de Janeiro, com um sorriso na cara depois de uma escala de algumas horas noutra casa, a de Madrid.

Por diversas vezes o trânsito caótico, fez com que o sorriso desse lugar uma gargalhada, com a viagem de 30 minutos de carro até ao hotel a ser preenchida por inúmeros encontros imediatos com motoretas kamikaze-sem-luz, semáforos de accionamento manual e exaltadas trocas de impressões entre um operário das obras de construção do metro e um taxista.

Mas se a confusão a poucos metros de nós era grande, o mesmo não se podia dizer da paisagem, que à fraca luz não se deixava avistar. Na entrada do Guynemer, um hotel velhinho mas de trato extremamente amigável, a sensação de chegar a casa, o que de facto viria a ser uma realidade na semana que se seguiu.


de dia, a maioria dos gatos são pardos


Com o nascer do dia e o aparecer de um sol envergonhado, pude de facto observar que a magia de Casablanca não reside certamente na sua beleza estética e comecei a perceber que haveria que procurar bastante no meio de tanto caos, ruas degradadas e sujidade.

Mas porque estas coisas têm de ser feitas de ânimo leve, logo percebi que como em todos os lugares existem pequenos detalhes, que de facto existem pontos que tornam este um lugar interessante, e nestes dias até já pude visitar alguns deles. As ruínas dos edifícios da época colonial permitem imaginar o esplendor de outrora, a imponência da mesquita Hassan II, ou a fervilhante medina antiga, certamente serão alguns dos locais aos quais certa e invariavelmente voltarei durante os próximos tempos. Terei tempo para aprender curiosidades e factos históricos da cidade. Caso não existam, encarregar-me-ei de inventar outros que entretenham aquelas que espero virem a ser as visitas de alguns de vocês!


Porque acho que num lugar destes o analógico tem mais encanto, só em breve terei alguns instantâneos destes dias, mas para aguçar o apetite, aqui ficam alguns factos e resoluções para os dias aqui vividos e para os outros que se seguem:


- As passadeiras e os semáforos vermelhos são meramente indicativos.

- Nem sempre a chuva lava a sujidade.

Se até é quentinho, porque não sair de pijama para a rua?

- A tradicional bata de dona de casa portuguesa tem algum tipo de relação com a versão marroquina, mas a congénere lusitana é muito mais bonita e não causa tonturas após um olhar mais atento.

- Talvez depois de a minha pele apanhar algum sol, espero não receber em troca uma garrafa de água sempre que pedir um café.

- Tenho duas hipóteses - saio daqui fã da decoração marroquina ou fanático da decoração minimalista.

- Número de acidentes envolvendo pessoas, viaturas ou motociclos: 4

- Nº de acidentes graves: 0

- Nº de acidentes com desfecho amigável: 3

- Nº de acidentes que implicam presença de peritagem e procedimentos de marcação da via com um calhau caiado: 1