quarta-feira, 23 de novembro de 2011
rebentos
terça-feira, 24 de maio de 2011
...às voltas
casablanca ficou para trás, mas sempre terei casablanca, uma entre tantas outras casas que colecciono e que fez sentido à sua própria maneira.
entretanto, o ahoj a Praga, às suas ruas e parques, à troca dos filmes por livros, e à descoberta do leste da europa central.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
domingo, 30 de janeiro de 2011
são voltas às voltas
Gosto de viver em diferentes lugares, de observar como a luz incide numa esquina, como uma erva emerge de uma laje solta, assistir à forma como fluem as coisas e as pessoas, mas é quando o meu caminho se cruza com o de outros que observo a transformação do mundo a que os meus olhos se habituaram, quando o palco do ilusionismo dá lugar à magia.
Esta entrada no vAleTe marca o início de uma nova etapa. Uma aventura num novo continente, numa cidade nostálgica pelo glamour de outrora, com receios próprios de tempos conturbados e à procura de um apoio seguro para dar um passo em frente. Assim é Casablanca, aquela que será a minha casa para os próximos seis meses!
à noite, todos os gatos são pardos
Cheguei a Casablanca na noite de 25 de Janeiro, com um sorriso na cara depois de uma escala de algumas horas noutra casa, a de Madrid.
Por diversas vezes o trânsito caótico, fez com que o sorriso desse lugar uma gargalhada, com a viagem de 30 minutos de carro até ao hotel a ser preenchida por inúmeros encontros imediatos com motoretas kamikaze-sem-luz, semáforos de accionamento manual e exaltadas trocas de impressões entre um operário das obras de construção do metro e um taxista.
Mas se a confusão a poucos metros de nós era grande, o mesmo não se podia dizer da paisagem, que à fraca luz não se deixava avistar. Na entrada do Guynemer, um hotel velhinho mas de trato extremamente amigável, a sensação de chegar a casa, o que de facto viria a ser uma realidade na semana que se seguiu.
de dia, a maioria dos gatos são pardos
Com o nascer do dia e o aparecer de um sol envergonhado, pude de facto observar que a magia de Casablanca não reside certamente na sua beleza estética e comecei a perceber que haveria que procurar bastante no meio de tanto caos, ruas degradadas e sujidade.
Mas porque estas coisas têm de ser feitas de ânimo leve, logo percebi que como em todos os lugares existem pequenos detalhes, que de facto existem pontos que tornam este um lugar interessante, e nestes dias até já pude visitar alguns deles. As ruínas dos edifícios da época colonial permitem imaginar o esplendor de outrora, a imponência da mesquita Hassan II, ou a fervilhante medina antiga, certamente serão alguns dos locais aos quais certa e invariavelmente voltarei durante os próximos tempos. Terei tempo para aprender curiosidades e factos históricos da cidade. Caso não existam, encarregar-me-ei de inventar outros que entretenham aquelas que espero virem a ser as visitas de alguns de vocês!
Porque acho que num lugar destes o analógico tem mais encanto, só em breve terei alguns instantâneos destes dias, mas para aguçar o apetite, aqui ficam alguns factos e resoluções para os dias aqui vividos e para os outros que se seguem:
- As passadeiras e os semáforos vermelhos são meramente indicativos.
- Nem sempre a chuva lava a sujidade.
Se até é quentinho, porque não sair de pijama para a rua?
- A tradicional bata de dona de casa portuguesa tem algum tipo de relação com a versão marroquina, mas a congénere lusitana é muito mais bonita e não causa tonturas após um olhar mais atento.
- Talvez depois de a minha pele apanhar algum sol, espero não receber em troca uma garrafa de água sempre que pedir um café.
- Tenho duas hipóteses - saio daqui fã da decoração marroquina ou fanático da decoração minimalista.
- Número de acidentes envolvendo pessoas, viaturas ou motociclos: 4
- Nº de acidentes graves: 0
- Nº de acidentes com desfecho amigável: 3
- Nº de acidentes que implicam presença de peritagem e procedimentos de marcação da via com um calhau caiado: 1
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
magusto
SUD-EXPRESS
Do ponto de vista de viajante, sempre achei que o comboio era o meio de transporte que mais promove o contacto entre as pessoas. Quer seja pela liberdade de movimentos que permite, a disposição das pessoas, ou até mesmo a carga histórica associada, sempre o encarei como algo mais do que uma forma que nos permite chegar a um destino, e que pode transformar a deslocação como parte, ela mesma, da nossa viagem.
Assim nasceu a ideia de embarcar a bordo daquele que é o percurso ferroviário mais antigo do mundo, que para além da carga histórica que já tinha, passou também a ligar a irmandade ibérica que constituí em espanha.
Outrora envolto numa mística do trânsito de imigrantes portugueses além fronteiras, hoje o Sud-Express é um comboio modernizado, com todos os benefícios e desvantagens que daí advêm. Parte do romantismo mantém-se, e é em grande parte devido à eternidade da entrada e saída de pessoas ao longo das inúmeras terras por onde vai passando. Assim aconteceu comigo. Um imprevisto levou-me a um vagão-cama, num compartimento onde o acaso juntou quatro estranhos, que com o arrastar das horas partilharam afinidades e divergências, algumas notas de imprensa, mas sobretudo experiências. Logo à partida, soube que iria ver correspondidas as minhas expectativas.
De um deles, tenho pouco a dizer. Filho de imigrantes, visitava portugal para rever parentes cada vez mais afastados pelo suceder das gerações, e das barreiras linguísticas.Do outro ocupante, senti essencialmente pena. Trabalhador da construção civil, não pode (ou não soube) aproveitar o que a mão cheia de países onde viveu lhe podia oferecer. Mas se o interesse em relação às culturas com que tinha contactado era pouco, o mesmo não se pode dizer da exaustiva análise que parecia efectuar ao tom polífónico, que em modo de repetição, entoava a música que neste verão parasitou todas as cadeias de televisão, quando o motivo, por mais remoto que fosse, fazia lembrar a selecção portuguesa de futebol... irra!
Se o cenário que tinha perante mim agoirava o princípio de um pesadelo, foi com agrado que vi entrar aquele que viria a ser a terceira peça do conjunto deste compartimento. A troca de palavras, incentivada pela obrigação da exaustiva partilha de um espaço comum, revelou um homem do norte, que (talvez goste eu de imaginar) se viu obrigado a abandonar o seu país por razões políticas. Casado com uma espanhola de santander (curiosamente aquele que se viria a tornar o meu destino passadas algumas horas), estabelecera-se em paris, há mais tempo do que a totalidade da minha própria existência podia constituir.
Os interesses comuns tornaram-se evidentes, desde o comentário a uma página solta de Orwell, ou ao desejo de um dia rumar a Este, do mesmo modo que o fazíamos nesse momento, mas de certa forma diferente, seja no conforto das carruagens, ou na nossa assepsia ocidental, e que só um transiberiano tão particularmente pode transmitir.
A partir deste momento, o tempo pareceu retomar o seu ritmo normal, e foi com entusiasmo que ouvi falar dos relatos de gente que outrora seguia o mesmo trajecto que nós.
Do resto da viagem, do reencontro de amigos e da estadia no País Basco espanhol e francês, muito fica por dizer, mas que melhor que imagens para o descrever?
(biarritz)