quarta-feira, 2 de julho de 2008

Marrocos

(Djemaa El-Fna - Marrakesh)

De volta à terra dos blogs e como prometido com o relato da última viagem a Marrocos!

A partida, ou quase partida, foi no domingo dia 22 de Junho. Na companhia da Charlotte deveríamos ter saído directos a Marrakech às 18h30, mas depois de sucessivos adiamentos, acabaram por cancelar o voo devido a hipotéticas condições meteorológicas adversas! Assim sendo, havia que optar entre um reembolso da viagem, ou voar no dia seguinte. Apesar de já sabermos que o tempo que íamos já era curto por si só, resolvemos ir na mesma e como tal, ainda nos pagaram uma noite num hotel de 4* com pensão completa!

O cenário acabou por revelar-se um belo prelúdio. Estávamos no anunciado maior hotel da Europa, a lembrar o filme "Shinning", estava cheio de luxos e rococózismos, e onde o pessoal da Easyjet obviamente contrastava um bocado! 

Depois de um dia passado entre ginásio, buffets e piscinas, lá regressamos ao aeroporto e as 20h30 locais, já estavamos a tocar o continente africano!

Depois procedimentos habituais de entrada no país, houve que usar o alargadíssimo léxico de francês para regatear um taxi que nos levasse até à cidade (expressões como "parlez petit de francais" e "tres chér" foram espingardadas um bocadinho por toda a estadia, mas nada que não fosse entendido do outro lado com um sorriso nos lábios, ou que se resolvesse com umas palavras em inglês ou linguagem gestual! :P)

A chegada ao coração da cidade (e a própria viagem de taxi) foram como um choque inicial, com caos por todos os lados, ruído, música, motorizadas, carroças puxadas por burros, e um milhão de outras coisas para processar ao mesmo tempo. Em parte era aquilo que esperava e buscava, por isso passados 5 min, deixámo-nos envolver por tudo e limitamo-nos a seguir a corrente!

Graças ao maravilhoso "Rouf Guide" seguimos a sugestão de passar a noite no "Hostal Adais" que tinha a particularidade de se poder dormir ao ar livre, num terraço que havia no telhado! Este era o espírito que levávamos, por isso aceitámos a sugestão, que nos acabou por custar menos de 3€ por noite!!
Mal chegámos, conhecemos um inglês chamado Simon que estava a terminar a sua estadia em Marrocos. Acolheu-nos muito bem e além nos acompanhar ao jantar, ainda nos pagou um chá, água e nos deu um rolo de papel higiénico! (Thank you, Simon!)

A estadia em Marrakech foi provavelmente a mais interessante de toda a viagem, por toda a variedade que oferecia. O coração da cidade é a praça Djemaa el Fna onde decorre dia e noite a venda de frutos, ervas medicinais, chás, especiarias, todos os tipos de comida (incluindo caracóis) e com música, encantadores de serpentes, contadores de histórias e animação por todo o lado! (em parte fez-me lembrar o Mercado de Ver-o-Peso de Belém)
Ligada a esta praça, estão os Zouks, um labirinto de ruas estreitas, cheias de comércio, artesãos que aí fazem olaria, marcenaria, ferragens, curtumes, tinturaria de tecidos e quase sempre segundo os costumes antigos, e de forma a que o possamos ver. O cheiro em si também impressiona: o costume de salpicar o chão com água, as especiarias que inundam o ar e todo o odor a pele e excrementos fica gravado na nossa mente e também faz parte de algumas cidades deste país.

Depois de estarmos 2 dias em Marrakesh em que ficámos com a sensação de que quase tudo tinha ficado visto, rumamos a Fez em busca da sua história e riqueza cultural. Pelo meio ficou uma viagem de 7 horas de comboio realizada durante a madrugada do 3º dia.

A cidade de Fez encontra-se dividida entre uma zona nova e a zona velha Fès-El-Bali onde ficamos alojados num hostel mesmo à entrada da Medina.
Não fora o facto de termos estado antes em Marrakesh, talvez esta tivesse sido a minha cidade de eleição em Marrocos, já que estão todas as mesquitas e palácios mais antigos e os zouks são impressionantes pelo seu tamanho, diversidade e complexidade, sendo quase impossível (e imprescindível) perdermo-nos pelas suas ruas!

Já que o dirham e o custo de vida em Marrocos é consideravelmente mais baixo que o euro, demo-nos ao luxo de comer fora todos os dias e experimentar um pouco da gastronomia local (tajines, coucous, pastilla, chás, etc.) Já aqui, tudo o que é álcool é tão ou mais caro que na Europa, por isso para vermos o jogo Alemanha-Turquia acompanhados de uma cervejinha, tivemos de ir ao bar de um dos hotéis mais próximos (onde aliás é o único sítio onde se vende esta bebida).

Depois de passar quase dois dias em Fez, queríamos rumar até Chefchauen, para ver como seria uma cidade mais pequena e com a particularidade de ser chamada a "Cidade Azul" pela cor dos seus edifícios. Infelizmente, o nosso sentido de viagem Sul-Norte estava um bocadinho ao contrário da maior oferta de transportes e como o tempo era curto não pudemos ir...

Sendo assim, restou-nos seguir para Tanger, de onde sairíamos no sábado pela tarde. A viagem de comboio foi um calvário, não só pelas 4h de viagem, mas pela inexistência de um ar condicionado que deixava os árabes mal, quanto mais um português ou uma alemã!! Ainda assim, com a ajuda de muita água conseguimos sobreviver e chegamos a Tanger pelas 23h30. O táxi que nos deveria levar ao hotel pareceu-me a mim que estaria a levar-nos para mais longe do que devia, por isso aqui o Eduardo resolveu dizer "STOP!" no meio de nada, e ali estávamos os dois, numa cidade desconhecia, à noite e em ruas bastante manhosas! Depois de andarmos um bocado à nora, lá apanhamos um táxi noutro local, e que previamente regateado e acordado à partida nos levou ao hostal onde dormimos as últimas duas noites. O edifício alegadamente teria mais de 100 anos e a traça não destoava muito do resto da cidade, com uma influência europeia bastante grande, a fazer lembrar zonas antigas do Algarve ou do Sul de Espanha.
Como disto já estamos nós um bocado fartos, a estadia na cidade acabou por valer mais a pena pela praia, que tinha duas curiosidades:
1 - passeios turísticos de camelo
2 - o maior racio de homens/mulher por m2 alguma vez visto!

No final da viagem, foi com satisfação que recebemos o segundo carimbo nos passaportes, mas ao mesmo tempo com quase a certeza voltar mais tarde, para explorar um bocadinho mais do que estas cidades têm para oferecer e especialmente para visitar outro locais, sítios perdidos no Atlas, safaris no deserto, as praias da costa atlântica e a gente acolhedora que fomos encontrando!

De volta à Europa, começou outro turbilhão, com a despedida da Charlotte que já foi para Hamburgo, a festa de Espanha pela conquista do europeu e o regresso à vida madrilenha, mas isso fica para o próximo post!

Até lá, espero que tenham paciência para ler isto tudo, ou pelo menos ver as fotos no link aqui ao lado!

As-Salamu Alaykum,
Ed.





6 comentários:

Adriana Oliveira disse...

Liiindo! Adorei o relato ;) Bjinhos

Anónimo disse...

Também adorei e és um bom contador de histórias.Davas um óptimo jornalista.
Os burros e gatos árabes, fazem cocorrência a muitas manequins, coitadinhos!...
Beijos
Maria

Anónimo disse...

Inbeeeeejaaaaa (k coisa feia Catarina, ai ai ai!!) ;) beijola no bizinhola e muitas saudadolas*

Anónimo disse...

Muito bom, gostei bastante de ler os teus relatos e de ver as fotos! Para quem nunca lá foi dá para sentir um pouco a vivência do local.
Aqui o pessoal do Ver-o-Peso também tem saudades tuas. Grande abraço do teu irmão!

Anónimo disse...

tenho já uma fotografia de Fez no meu "ambiente de trabalho" (com sorte, logo ponho uma na "mesa" tb!).

trocadilhos à parte, as fotografias lembram-me o Cazaquistão!! que vontade de ir a Marrocos, e que saudades do KZ...
isto tudo com tanta intensidade, que carla-a-agente-de-viagens perdeu algumas horas a cuscar a ryanair e a easyjet, e até arranjou uma viagem mesmo barata, mas como não tem férias, é a milena quem vai usufruir dela...

gostei muito dos relatos e das fotos. quanto a esse terraço onde se dorme por 3 euros, brevemente hei-de pedir-te mais informação!!

(conseguiste deixar-me com mais vontade de ir a Marrocos do que o site do joãoleitão! isto é um grande elogio.)

Anónimo disse...

Ed, acho que a tua estadia em Espanha, com todas as estórias e viagens, deviam ser compiladas numa espécie de conto-biográfico! escreves magnificamente, transportas o sonho para longe, e deixas no ar aquele convite género "faça você também" lol

adoro o teu blog, na generalidade, adorei esta passagem, particularmente.

parabéns e continua a viver, porque depois de ler isto, acho que a minha vida está a ser desperdiçada... lol